Lewandowski
derruba ato de comissão e autoriza perícia pedida por Dilma
Pedro
Ladeira/Folhapress
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presidente do STF, Ricardo Lewandowski, recebe senadores do PT e José Eduardo
Cardozo
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MARIANA
HAUBERT
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
14/06/2016
01h23 - Atualizado às 01h31
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, decidiu, nesta segunda-feira (13),
derrubar uma decisão da comissão especial do impeachment e
acatar um pedido feito pela defesa da presidente afastada Dilma Rousseff para
que o colegiado realize uma perícia contábil sobre os fatos que motivam a denúncia contra ela: as chamadas pedaladas
fiscais e a edição de decretos suplementares de crédito sem autorização.
Na última quarta-feira (8), o
ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, que
defende Dilma, apresentou o pedido ao colegiado sob o argumento de
"esclarecer os fatos relacionados à inexistência de materialidade, de
lesividade e de conduta típica, elementos centrais para que esteja
definitivamente provada a inocência da senhora presidenta".
O relator do caso, senador
Antonio Anastasia (PSDB-MG), chegou a acatar o pedido por considerar que o
procedimento resguarda o direito de defesa mas, ao ser votado pela comissão, o
requerimento foi rejeitado. Cardozo, então, recorreu a Lewandowski, que atua
como presidente do processo de impeachment.
A decisão é um revés para a
comissão, composta majoritariamente por senadores pró-impeachment. Durante a
discussão sobre o tema, na semana passada, eles argumentaram que o fato era
apenas uma tentativa de procrastinação feita pela defesa porque já existe
documentação sobre a edição de decretos suplementares e das pedaladas fiscais
produzida pelo Tribunal de Contas da União.
Em sua decisão, Lewandowski
afirmou que a perícia "guarda relação direta com as teses da defesa"
e não se mostra "irrelevante ou impertinente". O ministro argumentou
também que a perícia "evita futuras arguições de nulidade do processo por
parte da defesa" e lembrou que a perícia não ensejará custos ao Senado
porque foram designados técnicos da própria Casa.
INDICAÇÕES
O presidente do colegiado,
Raimundo Lira (PMDB-PB), designou três consultores do Senado: Diego Brandino
Alves, que atuará como coordenador, João Henrique Pederiva e Fernando Álvares
Leão Rincón.
Os senadores terão 48 horas para
apresentar perguntas aos técnicos e, ao fim deste prazo, eles terão dez dias
para concluir o trabalho. De acordo com Lira, isso não atrapalhará o andamento
dos trabalhos da comissão.
"Essa decisão mostra que não
se deve trabalhar nessa comissão com atropelos. É importante que a comissão
veja isso como um sinal. No caso do Collor [ex-presidente Fernando Collor], que
não tinha ninguém o defendendo, teve perícia", afirmou Lindbergh Farias
(PT-RJ).
Por outro lado, o senador Ronaldo
Caiado (DEM-GO) pediu ao presidente da comissão que não deixe a questão
atrapalhar o calendário estabelecido. "É importante que
Vossa Excelência faça cumprir o que aprovamos aqui. É fundamental que o plano
de trabalho que foi aprovado por essa comissão não seja submetido a chicanas ou
qualquer tipo de manobra", disse.
Lira também concedeu um prazo de
24 horas para que os senadores analisem os nomes indicados por ele para a junta
pericial.
TESTEMUNHAS
Nesta segunda, a comissão ouviu
duas testemunhas indicadas por senadores da base aliada do presidente interino,
Michel Temer. Eles foram indicados por serem das unidades técnicas responsáveis
pela análise das contas presidenciais e pela auditoria dos decretos de abertura
de créditos suplementares e das pedaladas fiscais.
O secretário de macroavaliação
governamental do Tribunal de Contas da União, Leonardo Albernaz, disse que
parte da crise social e econômica que o país vive hoje é relacionada à
"falta de cuidado" que o governo da presidente afastada, Dilma
Rousseff, teve com a "gestão das finanças públicas ao longo dos últimos
anos", principalmente em 2014 e 2015.
Em relação às chamadas pedaladas
fiscais e à edição de decretos orçamentários sem previsão legal, Albernaz disse
que eles não foram "meros fatos contábeis" mas "desvios bastante
contundentes" que violaram a responsabilidade fiscal. Ele defendeu ainda
que tais atos não aconteceram sozinhos.
"Aconteceram dentro de um
conjunto de atos e fatos que, a ver da auditoria do TCU, que faz um trabalho
sobre as contas do governo, representam uma despreocupação ou uma falta de
cuidado com a ideia de gestão planejada e transparente que são as bases da Lei
de Responsabilidade Fiscal", disse.
O secretário também afirmou que a
decisão do TCU que condenou as contas presidenciais de 2014 foi tomada com base
em relatório escrito por mais de 50 auditores que se basearam em achados que
acabaram sendo confirmados em mais de cinco acórdãos do mesmo ano.
"E, se chegou a uma
proposição de rejeição das contas do governo de 2014, não foi à toa. Foi
porque, em 2014, nós tivemos a gestão mais temerária das finanças públicas
brasileiras desde que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi editada",
disse.
Pedro
Ladeira/Folhapress
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secretário de controle externo do TCU, Tiago Alves, na comissão do
impeachment nesta segunda (13)
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PEDALADAS
Albernaz foi a segunda testemunha
ouvida pela comissão nesta segunda (13). Antes dele, o secretário de controle
externo do Tribunal de Contas da União, Tiago Alves, afirmou que o governo Dilma
deliberadamente atrasou o pagamento das dívidas do Plano Safra, devidas ao
Banco do Brasil em 2015, o que caracterizou as chamadas pedaladas fiscais.
De acordo com Albernaz, o
trabalho do TCU mostrou que a mesma prática que já havia sido condenada em
2014, foi repetida pelo governo Dilma em 2015 em relação aos decretos de
abertura de crédito suplementar. "Ou seja, houve a edição de seis decretos
com as mesmas irregularidades", disse.
Já os senadores que defendem
Dilma sustentam que o TCU fez uma inovação de interpretação em relação aos
decretos e que, por isso, o Executivo não poderia ser punido por fatos
pregressos.
Apesar de dizer que houve
irregularidades em relação aos decretos de crédito e o cometimento das
pedaladas fiscais, Albernaz evitou afirmar que Dilma Rousseff cometeu crime de
responsabilidade. "A gente não avança em tipificação penal. O máximo que o
tribunal pode fazer é dar ciência ao Ministério Público", disse.
AGENDA
Nesta terça (14), o colegiado
iniciará, às 11h, a oitiva de testemunhas apresentadas pela defesa de Dilma.
Foram chamados o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura,
André Nassar, e o ex-secretário adjunto da Casa Civil da Presidência da
República, Gilson Alceu Bittencourt.
A defesa também tinha arrolado o
ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho como testemunhas mas o ex-ministro da
Justiça José Eduardo Cardozo, responsável pela defesa de Dilma, ainda não
indicou quem o substituirá.
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