Mudança
no cálculo da dívida dos estados custaria R$ 300 bilhões à União
- 29/02/2016 19h57
- Brasília
Wellton
Máximo – Repórter da Agência Brasil
Montante representa o que o Tesouro deixaria
de receber da dívida renegociada no fim dos anos 90
e no início dos anos 200, diz o secretário
executivo
da Fazenda, Dyogo Oliveir Arquivo/Agência
Brasil
A aprovação de um decreto legislativo que muda o
cálculo da dívida dos estados e dos municípios custaria R$ 300 bilhões à União,
disse hoje (29) o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dyogo de
Oliveira. O montante representa o que o Tesouro Nacional deixaria de receber da
dívida renegociada no fim dos anos 90 e no início dos anos 2000, cujo estoque
cairia de R$ 463 bilhões para R$ 163 bilhões.
Oliveira reuniu-se com secretários de Fazenda de
quatro estados – Alagoas, Espírito Santo, Goiás e Paraná – para fechar uma
posição conjunta contra o projeto de decreto legislativo que pode ser votado
amanhã (1º) pela Câmara dos Deputados. O texto só não foi votado na última
quinta-feira (25) porque a base aliada obstruiu a sessão.
A proposta de decreto legislativo muda a
metodologia de cálculo dos juros dos estados e dos municípios. Em vez de juros
compostos (quando as taxas são multiplicadas mês a mês), a dívida passaria a
ser corrigida por juros simples (quando as taxas são somadas mês a mês). O
projeto também suspende o decreto do Poder Executivo editado no fim do ano
passado que autorizou a troca dos indexadores da dívida dos governos locais do
IGP-DI mais 6%, 7,5% ou 9% ao ano pela taxa Selic ou IPCA mais 4% ao ano,
prevalecendo o menor índice.
Segundo o secretário executivo da Fazenda, a
aprovação do decreto legislativo não trará prejuízo apenas à União, mas aos
estados. Isso porque não apenas a troca dos indexadores da dívida será suspensa
como as negociações para o alongamento da dívida em até 20 anos serão
interrompidas. “A suspensão do decreto [do Poder Executivo] teria o impacto
imediato de inviabilizar negociações”, advertiu.
Oliveira disse ainda que o projeto de decreto a ser
votado pela Câmara se baseia em tese infundada sobre o sistema de cálculo dos
juros em vigor não apenas no Brasil, mas em todo o planeta. “O entendimento da
União e de boa parte dos secretários de Fazenda é que tem de ser aplicada a
metodologia comum a todos os países, que são os juros compostos. Em todas as
aplicações financeiras, linhas de crédito e dívidas do Brasil e do mundo, a
taxa de juros é capitalizada de forma composta.”
Apoio dos estados
O Ministério da Fazenda recebeu o apoio dos
secretários de Fazenda presentes. George Santoro, secretário de Fazenda de
Alagoas, destacou que os próprios contratos de renegociação estabelecem o
sistema de juros compostos para corrigir a dívida, não fazendo sentido editar um
decreto para mudar o regime. Ele diz que a alteração no cálculo dos juros
comprometeria também as finanças dos governos locais.
“Existe o risco de as receitas dos estados também
serem tratadas desse modo. Todos os recursos de dívida ativa, de autos de infração
e tributos em atraso pagos aos estados também seriam corrigidos pelos juros
simples. Se for aplicar isso retroativamente, a exposição será muito grande.
Além do prejuízo de R$ 300 bilhões para a União, os estados terão de devolver
recursos que a gente nem sabe o tamanho”, disse Santoro.
A secretária de Fazenda de Goiás, Ana Carla Abrão,
ressaltou que a suspensão da mudança dos indexadores das dívidas dos estados e
da renegociação sobre o alongamento das dívidas também complicará a situação
dos governos estaduais. “A aprovação desse decreto trará um custo ao criar um
vácuo para a repactuação de dívidas e atrasar benefícios que darão folga ao
orçamento dos estados e com os quais a gente já está trabalhando [nas nossas
contas]”, disse.
Para a secretária de Fazenda do Espírito Santo, Ana
Paula Vescovi, a suspensão da renegociação da dívida dos estados agravará as
incertezas em relação à economia. “É importante ter uma relação que não
desequilibre o Brasil. Não nos cabe colocar um aspecto que traga mais incerteza
neste momento delicado. A sociedade precisa ter a garantia de que os estados
estão se ajustando definitivamente, e não tendo apenas alívios temporários”,
comentou.
O secretário de Fazenda do Paraná, Mauro Costa,
disse que a aprovação do decreto cria insegurança jurídica para os estados e os
municípios que estão prestes a assinar os contratos para trocar os indexadores
das dívidas. Dyogo Oliveira informou que o governo federal pretende assinar,
até o fim de março, os aditivos nos contratos com todos os estados para trocar
o indexador da dívida.
De acordo com os secretários presentes, os estados
que discordarem da forma de calcular os juros da dívida podem recorrer à
Justiça. Segundo Oliveira, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, até agora,
entraram com ações no Supremo Tribunal Federal para conseguir a correção das
dívidas pelos juros simples.
Edição: Nádia
Franco
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